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Bolsonaro diz que jamais será preso e volta a citar facada: 'Sou imorrível'

Alan Santos/PR
Imagem: Alan Santos/PR

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

16/05/2022 14h53Atualizada em 16/05/2022 18h40

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou hoje a citar o episódio do atentado a faca sofrido por ele durante a campanha de 2018. Em evento promovido pelo setor de alimentos, em São Paulo, o governante insinuou que o crime teria objetivo de tirá-lo da disputa eleitoral —tese descartada pela investigação da Polícia Federal— e disse ser "imorrível".

O chefe do Executivo federal também afirmou considerar que "nunca será preso".

Bolsonaro e o filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), são citados em declarações de testemunhas, como o ex-assessor Waldir Ferraz em entre vista à "Veja", como supostos beneficiários em esquemas ilegais de rachadinha (desvio de salários de funcionários em gabinetes). Ambos negam irregularidades.

A liberdade é mais importante do que a nossa própria vida. Vamos entrar agora no evento de hoje... Porque mais da metade do meu tempo eu me viro contra processos. Até já falam que eu vou ser preso... Por Deus que está no céu, eu nunca vou ser preso. Não estou dando recado para ninguém
Jair Bolsonaro

Bolsonaro, que é pré-candidato à reeleição em 2022, também comentou ter "uma história para contar sobre urna eletrônica", mas evitou completar o raciocínio.

O tema tem sido recorrente em falas do governante, crítico do sistema eleitoral brasileiro e conhecido por atacar repetidamente o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

No discurso realizado hoje, chamou o TSE de "inexpugnável" e, após citar uma reportagem que indicaria movimento de aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, concorrente no pleito desse ano, afirmou que as Forças Armadas teriam identificado "mais de 600 vulnerabilidades".

"Eu vejo hoje na mídia aqui que o nosso querido Jaques Wagner já está entrando em contato com embaixadores sobre a posse do Lula... Quem está dando essa certeza para ele? Eu acho que não é o nosso inexpugnável TSE. Quem está dando essa certeza para ele? Quem eles querem enganar? Ou tem a certeza já absoluta no tocante a isso? A alma da democracia é o voto. O TSE convida as Forças Armadas a participar do processo. As Forças Armadas levantam mais de 600 vulnerabilidades... Dá para vocês entenderem? 600 vulnerabilidades."

"Se vocês pegarem uma peneira agora de um metro de diâmetro, tem mais vulnerabilidade do que essa peneira. Faz seu trabalho, apresenta sugestões... Não valem as sugestões. Não vale. Democracia, eleições, quanto mais transparente for, melhor... Como eu disse, não tem um dono da verdade aqui. Não é assim que nós devemos tocar o nosso Brasil."

Convidadas pelo TSE a participar da Comissão de Transparência Eleitoral, os militares têm feito sucessivos questionamentos ao Tribunal quanto à confiabilidade do sistema de voto eletrônico, inclusive com perguntas fora do prazo. Em resposta ao Ministério da Defesa, a equipe técnica do TSE disse ter analisado as possíveis falhas apontadas e rejeitou as 7 sugestões enviadas à Corte eleitoral, seja porque já são adotadas em alguma medida ou não são viáveis de serem implementadas ainda neste ano.

Os técnicos negaram a existência de uma "sala escura" para apuração da eleição, rebatendo indiretamente as declarações de Bolsonaro —que acusou a Corte de manter uma sala secreta para contagem dos votos.

O presidente sugeriu também que as Forças Armadas participassem de uma "apuração paralela", em nova escalada aos ataques contra o sistema eleitoral. "Não existem salas secretas, tampouco a menor possibilidade de alteração de votos no percurso, dado que qualquer desvio numérico seria facilmente identificado, visto que não é possível alterar o resultado de uma somatória sem alterar as parcelas da soma", afirmou o TSE.

Durante o discurso de hoje, Bolsonaro não citou o nome do ministro Alexandre de Moraes, um de seus principais desafetos, mas fez uma crítica velada ao lembrar que o ministro do STF e membro do TSE avisou que mandaria prender quem disseminasse fake news durante as eleições.

"Agora está todo mundo unido. E estão trazendo mais gente... Mais gente que é responsável inclusive pelo processo eleitoral. Que bateu na mesa... Está certo, o candidato que duvidar eu 'casso' o registro e mando prender. Que p* é essa? Que Brasil é esse? Que democracia é essa?", questionou.

O presidente fez ainda críticas ao modus operandi da política nacional e declarou que "não se pensa no Brasil de jeito nenhum". "O Brasil que se exploda", completou.

"Eu até digo, estou lá no Palácio do Alvorada e me sinto como um prisioneiro sem tornozeleira eletrônica. Mas entendo que isso é uma missão. Temos que tentar mudar o Brasil, não temos outra alternativa. O que tentaram nos roubar em 64, tentam nos roubar agora. Lá atrás pelas armas, hoje pelas canetas. Liberdade de expressão."