Descrição de chapéu Coronavírus

Variante ômicron pode ter pegado um pedaço do vírus do resfriado

Sequência genética da nova cepa não aparece em versões anteriores do coronavírus, indica pesquisa

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Nancy Lapid
Nova York | Reuters

A variante ômicron do vírus que causa a Covid-19 provavelmente adquiriu pelo menos uma de suas mutações capturando um trecho de material genético de outro vírus –possivelmente o que causa o resfriado comum– presente nas mesmas células infectadas, segundo pesquisadores.

Essa sequência genética não aparece em qualquer versão anterior do coronavírus, chamado Sars-CoV-2, mas está muito presente em vários outros vírus, incluindo os que causam o resfriado comum, e também no genoma humano, disseram pesquisadores.

Ao inserir esse trecho particular em si mesma, a ômicron poderia estar tentando parecer "mais humana", o que a ajudaria a evitar o ataque do sistema imune humano, disse Venky Soundararajan, da firma de análise de dados nference, de Cambridge, Massachusetts, que liderou o estudo publicado na quinta-feira (2) no site OSF Preprints.

Profissional da saúde prepara dose de vacina contra a Covid para aplicar em centro de imunização em Londres - Daniel Leal - 4.dez.2021/AFP

Isso poderá significar que o vírus se transmite com maior facilidade, embora causando apenas doença moderada ou assintomática. Os cientistas não sabem ainda se a ômicron é mais infecciosa que outras variantes, se causa doença mais grave ou se ela vai superar a delta como variante predominante. Várias semanas poderão ser necessárias para termos essas respostas.

As células dos pulmões e do sistema gastrointestinal podem abrigar coronavírus Sars-CoV-2 e do resfriado comum ao mesmo tempo, segundo estudos anteriores. Essa infecção conjunta cria o cenário para a recombinação viral, processo em que dois vírus diferentes na mesma célula anfitriã interagem enquanto fazem cópias de si mesmos, gerando novas cópias que têm algum material genético dos dois "pais".

Essa nova mutação pode ter ocorrido primeiro em uma pessoa infectada com os dois patógenos quando uma versão do Sars-CoV-2 capturou a sequência genética do outro vírus, disseram Soundararajan e colegas no estudo, que ainda não foi revisado por pares.

A mesma sequência genética aparece muitas vezes em um dos coronavírus que causam resfriados em pessoas –conhecido como HCoV-229E– e no vírus da imunodeficiência humana (HIV), que causa a Aids, disse Soundararajan.

A África do Sul, onde a ômicron foi identificada primeiramente, tem o maior índice mundial de HIV, que enfraquece o sistema imune e aumenta a vulnerabilidade das pessoas a infecções por vírus do resfriado comum e outros patógenos. Nessa região do mundo, há muitas pessoas nas quais a recombinação que acrescentou esse conjunto onipresente de genes à ômicron pode ter ocorrido, disse Soundararajan.

"Nós provavelmente perdemos muitas gerações de recombinações" que ocorreram ao longo do tempo e que levaram ao surgimento da ômicron, acrescentou a cientista.

Há necessidade de mais pesquisa para confirmar as origens das mutações da ômicron e seus efeitos na função e na transmissibilidade.

Há hipóteses concorrentes de que a última variante pode ter passado algum tempo evoluindo em um anfitrião animal.

Enquanto isso, disse Soundararajan, as novas descobertas salientam a importância de as pessoas se imunizarem com as vacinas atualmente disponíveis para Covid-19.

"Você precisa se vacinar para reduzir a probabilidade de que outras pessoas que estão imunocomprometidas encontrem o vírus Sars-CoV-2", disse Soundararajan.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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