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Isabel mostrou que maternidade, feminismo e política têm espaço nas quadras

Isabel Salgado e suas filhas grávidas  - Reprodução/Instagram
Isabel Salgado e suas filhas grávidas Imagem: Reprodução/Instagram

De Universa, em São Paulo

16/11/2022 12h11

Isabel Salgado, ex-jogadora de vôlei, não teve tempo de contribuir com a transição do governo Lula. Convidada para fazer parte da equipe, ela morreu aos 62 anos por conta de uma bactéria no pulmão na madrugada desta quarta-feira (16).

Ativista e feminista, fora das quadras chamou a atenção com ações nas quais defendeu os direitos das mulheres. A jogadora também foi precursora ao continuar jogando durante as gestações. Ela é mãe de cinco filhos e jogou enquanto estava grávida de três deles, na década de 1980.

"Toda vez que fiquei grávida, eu sempre tinha o acompanhamento de um bom médico e eu sempre fazia o que eu sentia que dava. Eu me sentia bem em quadra quando joguei grávida, me sentia muito segura, meu físico era muito bem preparado. Todos os meus partos foram normais", disse em entrevista ao site "Saque Viagem", em 2020, quando completou 60 anos.

Isabel Salgado em quadra jogando grávida  - Reprodução - Reprodução
Isabel Salgado em quadra jogando grávida
Imagem: Reprodução

Durante a gravidez da Maria Clara, que nasceu em 1983, Isabel jogou por bastante tempo. Em seguida veio o Pedro, nascido em 1986, na qual também apareceu em quadra e treinou. E na gravidez da Carol, nascida em 1987, ela afirma que treinou até o finalzinho. "Uma mulher grande, com um barrigão e uma bola do lado era algo fora do comum. Hoje em dia a gente vê muitas mulheres grávidas fazendo exercício", afirmou, na mesma entrevista.

Ser mãe não atrapalhou sua carreira, como muitos previam, e era algo que Isabel sempre falou com muito amor. "Sou muito ligada nos meus filhos, e vi com prazer a barriga crescer, mesmo sendo uma atleta e competindo. Tinha 19 anos quando levei a primeira filha, Pilar, com um ano para Modena, Itália. Fui pelo vôlei para o Japão com meus quatro filhos, a cozinheira e o filho dela. Estar em família sempre me estimulou", disse em entrevista ao jornal "O Globo".

Mãe de dois, em 1985, ela foi convocada para a seleção Olímpica de vôlei e em 1986 foi destaque no Campeonato Mundial, disputado na antiga Tchecoslováquia, quando o Brasil terminou na quinta colocação - conquistas que precisavam de intensa dedicação da atleta. Em 1989, fez sua última participação pela seleção no Campeonato Sul-Americano, que aconteceu em Curitiba.

Ataques ao governo Bolsonaro

Isabel apoiou a filha, Carol Solberg, também jogadora de vôlei, quando ela foi processada por criticar o governo Bolsonaro após uma vitória. Na época, a jogadora citou os mortos pela covid-19 e do veto à distribuição gratuita de absorventes para jovens em situação de vulnerabilidade. "Carol, você está certa. Não temos nada para comemorar", publicou em seu Instagram.

Aliás, quem acompanhava Isabel pelo Instagram via que ela não se calava ao se deparar com injustiças. Nas publicações é possível encontrar indignação ao caso de Kathlen Romeu, que morreu vítima de uma bala perdida quando estava grávida, e apoio a Marielle. Ela também gravou um vídeo repudiando a apologia à ditadura militar feita pelo governo Bolsonaro, e lembrando que ela é crime.

Esporte pela democracia

Isabel Salgado foi nomeada parte da equipe de transição do Governo Lula na última segunda-feira (14)                              - Ricardo Stuckert                             - Ricardo Stuckert
Isabel Salgado foi nomeada parte da equipe de transição do Governo Lula na última segunda-feira (14)
Imagem: Ricardo Stuckert

Há apenas 2 dias, na última segunda-feira (14), Isabel Salgado havia sido nomeada parte da equipe de transição do Governo Lula.

O convite para integrar o time de esporte na política não foi à toa. Ela tem um histórico de ativismo político e luta feminista dentro das quadras. Uma das suas ações mais recentes é o movimento "Esporte pela Democracia", iniciado por Isabel e outros atletas, dentro e fora do esporte, em busca de um ambiente mais igualitário e justo no esporte.

O movimento já conta com 2.365 assinaturas. "Pelo nosso repúdio integral ao racismo, à violência, e nosso desejo de voltar a crer num futuro possível e igualitário, hoje nos colocamos diante de questões políticas importantes. Como representar um país em que práticas autoritárias se tornam cotidianas? Em que a diversidade cultural, uma de nossas maiores riquezas, é frontalmente atacada? Como nos comportar diante do que temos vivido nos últimos tempos, da triste imagem nacional passada para o mundo?", diz um trecho do manifesto.