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Inflação pode ficar alta para além deste ano, diz diretor de órgão mundial

Para Luiz Awazu, diretor-geral do BIS, "risco mais importante de longo prazo é o de a inflação se tornar sistemicamente mais elevada" - Vinícius de Oliveira/UOL
Para Luiz Awazu, diretor-geral do BIS, 'risco mais importante de longo prazo é o de a inflação se tornar sistemicamente mais elevada' Imagem: Vinícius de Oliveira/UOL

17/05/2022 07h29Atualizada em 17/05/2022 07h30

Diretor-geral adjunto do BIS (Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de banco central dos bancos centrais), Luiz Awazu Pereira da Silva vê como risco mais importante de longo prazo a inflação se tornar sistemicamente mais elevada, o que levaria a uma mudança de "regime inflacionário", saindo do período que ficou conhecido como a "grande moderação".

"Se a dose de aperto (alta dos juros) for insuficiente, ou se políticas fiscais inconsistentes forem adotadas, a inflação pode se consolidar nas expectativas de todos e virar um problema bem maior", diz ele, que foi diretor do Banco Central e secretário no Ministério da Fazenda.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

O Estado de S. Paulo: Em que medida a inflação no mundo pode ser importada pelos países emergentes neste ano?

Luiz Awazu Pereira da Silva: O retorno da inflação tem sido um fenômeno global. Ganhos de eficiência mundial que reduziam custos locais foram revertidos depois da pandemia.

Somente na Ásia a inflação permaneceu relativamente moderada, pelo menos até recentemente, pois nos últimos meses houve retomada importante na maioria dos países, com exceção da China e do Japão.

Em três de cada quatro economias avançadas, a inflação ultrapassa 5%. Em mais da metade dos mercados emergentes, está acima de 7%.

Estadão: Quais os riscos à frente?

Luiz Awazu: A inflação pode permanecer alta para além deste ano, por causa de problemas na oferta e na produção. O conflito na Ucrânia poderá causar novos aumentos de preços de energia, alimentos e outras commodities, o que levaria a novas altas em preços de bens e serviços.

Se houver novos lockdowns na China, isso causaria problemas adicionais nas cadeias globais de produção.

O risco mais importante de longo prazo é o de a inflação se tornar sistemicamente mais elevada, levando a uma mudança de paradigma ou de regime inflacionário, saindo do período que ficou conhecido como a "grande moderação".

Quando a inflação é baixa e estável, naturalmente chama menos atenção e sua influência sobre a formação de salários e preços é menor. Mas, se a alta de preços se torna mais generalizada, esta dinâmica pode mudar, levando a uma espiral inflacionária em que altas de preços e salários se retroalimentam.

Estadão: Como equilibrar esse dilema, entre mais inflação ou uma possível recessão?

Luiz Awazu: Se os bancos centrais não conseguirem calibrar a sua dose certa de aperto monetário, no tempo certo, para tentar conter tendências inflacionárias de curto prazo, podem acabar induzindo uma queda excessiva de atividade e até uma recessão. E isso deve ser evitado.

Se a dose de aperto for insuficiente, ou se políticas fiscais inconsistentes forem adotadas, a inflação pode se consolidar nas expectativas de todos e virar um problema bem maior.

Estadão: O fluxo de recursos estrangeiros para os emergentes é crescente. Isso vai seguir?

Luiz Awazu: O volume de capital que ia para a Rússia antes da guerra já era muito pequeno. As estatísticas do BIS mostram que os bancos já haviam reduzido pela metade sua exposição àquele país desde 2014.

O benefício para outros países desse potencial redirecionamento de fluxos não é significativo. Mais significativo, a longo prazo, é a queda potencial de fluxos de capital para outros países.

Não é impossível que, em um mundo geopoliticamente mais fragmentado, os fluxos de comércio e capital se alterem. Alguns mercados emergentes vão sair perdendo, e outros podem se beneficiar.