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Edmo Atique Gabriel

OPINIÃO

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Claudia Jimenez enfrentou câncer e 3 cirurgias cardíacas; entenda histórico

Claudia Jimenez, em 2011 - TV Globo / Estevam Avellar
Claudia Jimenez, em 2011 Imagem: TV Globo / Estevam Avellar

Colunista do UOL

27/08/2022 04h00

Não é fácil enfrentar tantas adversidades e ainda conservar o humor como característica principal. Assim foi o histórico de vida da atriz Claudia Jimenez, que morreu no sábado passado (20) aos 63 anos.

Como tantos brasileiros e brasileiras, Claudia enfrentou um câncer ainda muito jovem e, como consequência, desenvolveu várias complicações cardiovasculares, as quais exigiram três cirurgias no coração.

As pessoas que enfrentaram um câncer num passado recente, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, vivenciaram uma fase de muitos efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia. Com o passar dos anos e a grande evolução das terapias anticâncer, essa taxa de complicações tem diminuído de forma significativa, já que tem sido possível realizar tratamentos mais direcionados ao local exato do câncer.

Claudia foi diagnosticada com um câncer no mediastino em 1986. O mediastino é uma região dentro do tórax, muito próxima ao coração e aos pulmões. A atriz foi tratada com radioterapia na região torácica e seu coração acabou sendo atingido colateralmente pelos efeitos da radioterapia, sofrendo com enrijecimento, inflamação e acúmulo de cálcio (calcificação).

Cerca de 10 anos após o diagnóstico do câncer, Claudia foi submetida a uma cirurgia de "pontes de safena ", quando as artérias do próprio coração estão obstruídas e é necessário retomar o fluxo sanguíneo para manter o músculo cardíaco vivo. Essas obstruções geralmente são decorrentes do acúmulo de gordura e cálcio. A radioterapia certamente contribuiu para inflamação e calcificação das artérias do coração.

Alguns anos após essa primeira cirurgia cardíaca, um novo diagnóstico apareceu na vida de Claudia —desta vez, de disfunção da valva aórtica. A valva aórtica controla o fluxo que sai do coração e vai para todo o corpo, a cada batimento do coração. No caso da atriz, a dela ficou endurecida e calcificada, exigindo uma cirurgia para substituição.

Por fim, após duas cirurgias cardíacas e com as sequelas inflamatórias da radioterapia no músculo cardíaco, o coração de Claudia começou a bater mais devagar, prejudicando o fluxo sanguíneo para o cérebro. A pessoa começa a sentir tontura, fraqueza, as vistas embaçam. Nestes casos, o implante de um marca-passo acaba sendo necessário, com o objetivo de restaurar os batimentos cardíacos normais.

Em meio a três cirurgias e o grande impacto inflamatório que a radioterapia deixou no músculo cardíaco, Cláudia desenvolveu um quadro progressivo de falência do coração, a insuficiência cardíaca. Quando essa etapa ocorre, a força do órgão diminui e, mesmo com todas as cirurgias realizadas, o coração pode não suportar.

O caso da atriz Claudia Jimenez expõe uma realidade difícil de lidar —câncer e complicações cardiovasculares. Quando se inicia o tratamento para um câncer, o pensamento imediato é conseguir controlar a doença e sua evolução. No entanto, torna-se absolutamente necessário considerar que o coração pode ser alvo de um câncer de forma indireta.

Diante de todas estas circunstâncias, fica a mensagem para todos que enfrentam a batalha contra o câncer: tenham atenção com sua saúde cardiovascular e não subestimem os efeitos que o tratamento pode exercer sobre ela.