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Carreatas pelo país fazem protesto pedindo impeachment de Bolsonaro

Do UOL, em São Paulo*

23/01/2021 12h28Atualizada em 23/01/2021 22h45

Carreatas organizadas em várias cidades do Brasil saíram às ruas hoje pedindo o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Os atos foram convocados em protesto pelo agravamento da crise do coronavírus e dificuldade do governo federal de agilizar uma ampla campanha de vacinação no país.

No início da tarde, cidades como Belém, São Paulo, Campinas (SP), Rio de Janeiro, Recife e Brasília já tinham carros nas ruas. O formato de carreatas foi escolhido para reduzir o risco de contágio da covid-19 durante os atos.

Na capital federal, a mobilização no Eixo Monumental e na Esplanada dos Ministérios teve buzinaço e cartazes pedindo a saída do presidente. De acordo com a assessoria da Polícia Militar do Distrito Federal, cerca de 500 veículos participaram do protesto. O Batalhão de Trânsito da PM fez o acompanhamento do ato e nenhuma ocorrência havia sido registrada.

Em Belém, manifestantes também pediram a volta do auxílio emergencial, encerrado em dezembro por decisão do governo federal. Segundo a Agência Estado, 500 carros participaram do ato na capital paraense.

No Rio, depois de se concentrar por cerca de uma hora no monumento Zumbi dos Palmares, a carreata com cerca de cem veículos saiu por volta do meio-dia ocupando uma faixa da avenida Presidente Vargas, uma das principais via do centro.

Bandeiras, buzinas e gritos de "Fora Bolsonaro" eram ouvidos ao longo do caminho. Entre os participantes, estavam a viúva de Marielle Franco, a vereadora Mônica Benício (PSOL), e a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ).

Nos vidros dos carros que participam dos atos pelo país, era possível ler frases como "fora Bolsonaro", "vacina para todos" e "viva o SUS", em referência ao Sistema Único de Saúde.

Protesto foi convocado por grupos de direita e esquerda

Ontem, pelo menos 18 capitais haviam confirmado a realização do protesto, entre elas, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, Curitiba, Goiânia, Florianópolis, João Pessoa, Palmas, Campo Grande, Rio Branco, Maceió e Teresina.

Grupos e políticos de direita e esquerda convocaram a população para participar das manifestações. Em São Paulo, os partidos que participaram das carreatas são Rede, PDT, PT, PV, PSOL, PCdoB, PSB, Cidadania e PCB.

Movimentos sociais como o Frente Povo Sem Medo, a Frente Brasil Popular, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a Central de Movimentos Populares (CMP), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), entre outros, também participaram.

Organizadores falam em 2.500 carros em SP

Carreata pelo impeachment de Bolsonaro passa pela avenida Paulista, em São Paulo - André Porto/UOL - André Porto/UOL
Carreata pelo impeachment de Bolsonaro passa pela avenida Paulista, em São Paulo
Imagem: André Porto/UOL

A concentração da carreata em São Paulo começou às 14h na Alesp (Assembleia Legislativa de SP). Às 15h20, o ato saiu rumo à avenida Paulista e depois desceu a rua da Consolação até o centro, dispersando na praça Roosevelt, às 17h50.

Em entrevista ao UOL, o coordenador geral da CMP, Raimundo Bonfim, disse que o ato em São Paulo tinha quatro pautas: Fora Bolsonaro, Vacina Já, a volta do auxílio emergencial e a proteção do emprego em razão das restrições durante a pandemia. Segundo os organizadores, 2.500 carros participaram do ato.

Na véspera do ato, Bonfim disse ao UOL que estimava a participação de cerca de 300 veículos. A adesão acabou surpreendendo os organizadores do protesto.

Várias cidades do estado também tiveram atos. Além de Campinas, houve manifestações em Santos, São José dos Campos, São Bernardo do Campo, Jacareí, Bragança e outras cidades.

Em Belo Horizonte, o protesto saiu do Mineirão e passou pelo centro da cidade.

Ato foi "esquenta" para manifestação em 31/1

Na avaliação do porta-voz da Rede Sustentabilidade no DF, Ádila Lopes, a mobilização de hoje foi um "esquenta" para o ato previsto para 31 de janeiro —na véspera das eleições para a presidência da Câmara e do Senado.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que também esteve na carreata em Brasília, convocou a população a manter as cobranças pela saída do presidente da República em manifestações, panelaços e pressão nas redes sociais.

"Para aqueles que dizem que colocar o impeachment agora é gerar instabilidade no Brasil, nós temos que responder que a instabilidade já está acontecendo e a crise está grave. E a instabilidade tem nome: Jair Bolsonaro", declarou.

Grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua (organizações de direita que protagonizaram a mobilização pela derrubada de Dilma Rousseff em 2016) chamaram para a manhã de domingo (24) atos contra o governo federal. Estes movimentos, na divulgação de seus atos, pedem que não sejam usadas bandeiras de partidos políticos nas manifestações.

Bolsonaro tem popularidade abalada, aponta Datafolha

Os protestos de hoje acontecem em um momento em que a popularidade de Bolsonaro se mostra abalada. Pesquisa Datafolha divulgada ontem indicou aumento do número de insatisfeitos com Bolsonaro: 40% da população avalia sua atuação como ruim ou péssima, comparado com 32% que assim o consideravam na edição anterior da sondagem, no começo de dezembro.

O número de participantes que avaliam o governo como ótimo ou bom teve leve queda também passando para 31% ante 37% em dezembro. A taxa de avaliação regular ficou em 26%, comparada com 29% anteriormente.

Bolsonaro disse que governo federal não tinha mais condições de bancar o auxílio emergencial - REUTERS - REUTERS
Bolsonaro disse que governo federal não tinha mais condições de bancar o auxílio emergencial
Imagem: REUTERS

Com o desgaste da imagem do governo Bolsonaro, a taxa de brasileiros contrários ao impeachment cresceu, indo de 50% em dezembro para 53% agora. Os que defendem a abertura de um processo contra o presidente por crime de responsabilidade são 42%, enquanto no mês passado, eram 46%. Outros 4% não responderam.

Na Câmara dos Deputados, são mais de 50 pedidos de impeachment protocolados contra Bolsonaro. Nos bastidores, foram reforçadas as conversas sobre instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as ações e omissões do governo durante a crise sanitária do novo coronavírus —possibilidade já levantada inclusive pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

*Com informações da Agência Estado

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.